" Essa carta é pra você que um dia me quis por perto, mas hoje já me esqueceu. Essa carta é pra você que não soube me amar. Essa carta é pra você que me deixou ir e achou melhor assim.
Uma vez me disseram que não existe pessoa certa ou errada pra ninguém, o que existe é a falta de tentativa.
Mas eu tentei, eu insisti, eu te quis.
Eu mudei por você e você se mudou de mim. Mudou-se de mim e levou tudo consigo.
Separou de mim como um casal divorciado que dividem os móveis da casa onde um dia viveram juntos. Mas eu acho que tenho que te visitar pra buscar a parte de mim que foi embora contigo.
Ela me faz falta, assim como você também me faz. Aliás, você é a parte de mim que eu mais sinto falta.
Sinto falta dos apelidos. Sinto falta da sua blusa do John Lenon que você usou na primeira vez que a gente saiu e eu amei. Sinto falta das comparações entre as cordas da sua guitarra comigo.
Sinto falta dos teus dedos magros entrelaçados aos meus.
Eu sinto falta de quem eu era quando falava e olhava pra você. Era como se tudo virasse poesia, e a tensão dos meus ombros, tornasse o brilho dos meus olhos.
Eu sinto falta até dos nossos acasos mesmo depois do fim.
E se um dia a gente se encontrar por ai e eu te olhar com cara feia, releve.
É que as vezes não consigo disfarçar o quanto me dói olhar pra você e ter que fingir desamor.
Como se nunca tivesse ate amado. Como se fossemos dois desconhecidos que se conhecem muito bem.
Eu nunca tive a praticidade que você tem de esquecer, ou de fingir que não se importa.
Porque eu me importo. Eu me importo e eu te amo.
Agora você entende o porque eu demorei tanto pra ir embora? Porque é difícil ir embora quando se ama.
Eu fui embora com o pé direito dentro e o pé esquerdo fora da nossa história, sem coragem de partir.
Eu fui embora devagarinho como quem não quer ir.
Eu fui embora ciente de toda falta que eu iria sentir de você.
Do quanto iria doer te encontrar na esquina e te ver seguir um caminho diferente do meu.
Eu fui embora, mas só precisava de um "ei" pra me fazer voltar e ficar até amanhã, até sábado ou até a vida inteira se você quisesse, mas você não disse nada que me fizesse ficar.
Você me deixou ir e disse que sentia muito, mas era melhor assim.
Há quem diga que eu fui embora por fraqueza. Outros dirão que já fui tarde e que você não me merece.
Mas eu fui embora porque amor nenhum sobrevive a uma colcha de retalhos. Migalhas.
Retratos partidos ao meio e a cartas de adeus.
E depois de um tempo era só isso que você conseguia me dar.
Pedaços de você e migalhas do seu tempo.
Eu fui embora porque o cansaço me venceu e o segundo plano nunca foi o meu lugar.
Já chega de achar que suas peças trocadas iam completar os meus vazios.
Seu orgulho foi mais insistente que os acasos que tanto nos rodearam.
Você desistiu de mim como deveria ter desistido do seu orgulho.
Você segurou o seu orgulho como deveria ter me segurado.
Eu que sou garrancho, arredondei a letra entre essas linhas pra te escrever essa carta, mas sei que você nem vai ler.
Até o próximo acaso.
(Não assino porque já não sei mais quem eu sou pra você)"
- Beatriz Larissa.