Coisas fatais!!


"Muitas vezes, entretanto, embora coisas fatais estejam acontecendo, as pessoas não percebem, na hora, que elas são fatais. Conseguem sacar que "a coisa não está boa" ou então que "acontecer mais essa não ajudou em nada"; Porém, só com o passar do tempo dá para compreender o quanto o momento era realmente grave. Para mim, a rotina foi culpa daquilo. Ela mascara o desastre. A pessoa acha que, por estar acordando de manhã, vestindo roupas limpas, indo para o trabalho, comendo de vez em quando e vendo novelas, está tudo bem. Estávamos fazendo tudo isso e arrastávamos, sem sentir, o peso de um "relacionamento" moribundo. (...) Os problemas não me faziam mais mergulhar no desespero, eles simplesmente iam se depositando calmamente uns por cima dos outros, provavelmente porque eu não tinha espaço para cair mais, por já estar no fundo do poço. A não ser por nossas ocasionais faltas ao trabalho - nunca no mesmo dia -, nossa rotina continuou, como um hamster correndo em sua rodinha. Achávamos que estávamos indo em frente, mas tudo que fazíamos era marcar passo, sem chegar a lugar algum. Tiquetaque, tiquetaque, os dias passavam. Pagávamos a prestação da casa, nos espantávamos com o valor da compra do mês, conversávamos sobre assuntos familiares, como se tudo estivesse normal. Íamos para o trabalho, saíamos de vez em quando, cada uma com seus amigos, e então chegávamos em casa, íamos para a cama sem nem trocar uma palavra e cochilávamos algumas horas, para acordar de vez às quatro da manhã e passar o resto da noite preocupadas. E saibam que sim, eu realmente me perguntava quando é que as coisas iam melhorar. Continuava convencida de que aquela horrível situação era temporária. Até aquela noite, pouco antes de a vaca ir para o brejo, eu me senti subitamente acometida por uma visão de raios x, consegui enxergar quando e onde as coisas haviam se contaminado. Tudo ficou exposto sem disfarces e eu tive aquele pensamento súbito e claro: "estamos com um problema gigante nas mãos." (...) Ninguém poderia prever que aquele era o dia no qual toda a estrutura abalada iria desabar de uma vez só. (...) Senti como se estivesse caindo, e pareceu que eu ia continuar caindo para sempre. Então, de repente, eu freei. A música havia parado, o fim chegara e eu já não conseguia mais ir em frente. Não aguentava observar a espiral descendente dos meus problemas começar a sugar outras pessoas e fazê-las girar em seu vórtice também."

- Los Angeles - Marian Keyes.

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