"Eu continuava trabalhando muitas horas além do meu expediente, mas produzia pouca coisa que prestasse. Continuava dormindo no sofá, e ele ainda estava morto. (...)
Chorar se transformou em um grande conforto, mas era difícil conseguir tempo disponível para isso, porque meu rosto inchava e demorava um tempão para voltar ao normal. Não era seguro chorar de manhã porque minha aparência ficava medonha no trabalho. Na hora do almoço também não, pelo mesmo motivo. Mas as noites eram ótimas. Eu ansiava pela chegada da noite.
Eu me arrastava ao longo de cada dia e a unica coisa que me mantinha viva era a esperança de que o dia seguinte seria mais fácil. (...)
Andava louca por algum sinal de que ele ainda estava comigo, mas até então eu não tinha visto nada de diferente.
As pessoas dizem que não conseguem lidar com o fato de a morte ser tão definitiva, mas o que me incomodava e arrasava mais é que eu não sabia para onde ele tinha ido. Afinal, ele tinha de estar em algum lugar.
Todas as suas opiniões, pensamentos, lembranças, esperanças e sentimentos, todas as coisas que eram exclusivas dele e o tornavam um ser humano único - elas não podiam ter simplesmente desaparecido. (...)
E então eu era tomada pelo horror - começava a suar sem parar e manchas pretas apareciam diante dos meus olhos. Era o horror total de me dar conta de que ele fora levado para longe. Tinha sido removido deste planeta, deste mundo físico. Tinha ido para outro lugar onde eu nunca poderia alcança-lo.
Até então, eu sempre tinha achado que a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa é alguém que ela ama desaparecer misteriosamente e de forma abrupta.
Só que isso era pior. Se tivesse sido aprisionado em algum lugar, sequestrado ou até mesmo fugido, eu teria a esperança de que um dia ele pudesse voltar. (...)
Eu sabia que onde quer que ele estivesse, estaria sofrendo com esta separação tanto quanto nós.
Puxa, eu daria minha vida só para saber se ele estava bem!
Onde você está, vô? (...)"
* Tem alguém aí? - Marian Keyes
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